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sábado, 30 de março de 2024

Othelo

A peça "Othelo" de William Shakespeare teve ao menos cinco grandes adaptações famosas no cinema americano. Essa versão aqui ficou conhecida por um fato até singelo, mas importante para o público afrodescendente. Pela primeira vez na história um ator realmente negro interpretou o personagem principal, o mouro atormentado pela dúvida da existência ou não de uma suposta traição por parte da mulher que ama, a bela (e branca) lady Desdemona (Irène Jacob). Coube a Laurence Fishburne a honra de defender o papel com toda a extensão de seu talento dramático. Interessante que na versão cinematográfica mais famosa o grande Orson Welles precisou se pintar de negro para convencer nas telas como Othelo, o que resultou em algo até estranho, embora o talento de Welles conseguisse sobreviver realmente a tudo - até mesmo a algo tão equivocado como se pintar para parecer um mouro verdadeiro.

Nesse Othelo dos anos 90 alguns outros aspectos também chamam a atenção, a começar pelo brilhante trabalho do ator (e especialista na obra de Shakespeare) Kenneth Branagh. Ele interpreta o vilão vil e inescrupuloso Iago. Ouso até escrever que essa foi a melhor transposição desse personagem para as telas. No quesito atuação não há como negar que Branagh roubou o filme inteiro para si. O ator conseguiu o tom certo, trazendo com sua atuação uma qualidade incrível para o filme como um todo. Outro ponto que merece destaque é o lado sensual das cenas de amor entre Othelo e Desdemona! Pelo visto o diretor tentou mesmo realçar o calor dessa paixão de todas as maneiras possíveis. Essa sensualidade à flor da pele inclusive serviu de munição para algumas críticas que desaprovaram o filme na época de seu lançamento. Bobagem, os tempos eram outros e penso que o próprio William Shakespeare teria aprovado a maior ênfase no lado sensual desse romance de destino trágico.

Othelo (Othello, Estados Unidos, 1995) Direção: Oliver Parker / Roteiro: Oliver Parker, baseado na obra de William Shakespeare / Elenco: Laurence Fishburne, Kenneth Branagh, Irène Jacob, Michael Sheen / Sinopse: Mesmo contra a vontade de sua família a jovem Desdemona (Irène Jacob) resolve se casar com mouro Othelo (Fishburne). Com o tempo, apesar do calor da paixão, ele começa a desconfiar que estaria sendo traído pela sua esposa. Filme indicado ao Screen Actors Guild Awards ma categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Kenneth Branagh).

Pablo Aluísio.

sábado, 30 de dezembro de 2023

Cinderela

Contos de fadas sempre são fascinantes, mesmo depois que nos tornamos adultos e deixamos as coisas de criança para trás. O império Disney foi construído em cima justamente dessa base. Sabendo disso os executivos do estúdio descobriram uma nova fórmula de faturar grandes bilheterias no cinema com a produção de filmes convencionais que nada mais são do que remakes de suas animações mais famosas do passado. Assim temos agora essa nova versão de "Cinderela". A historinha é por demais conhecida, mostrando a sofrida vida de Ella (Lily James), uma jovem de bom coração, muito doce e cheia de bons sentimentos, que acaba ficando numa situação muito complicada após a morte dos pais, tendo que morar ao lado da sua madrasta (Cate Blanchett), uma verdadeira megera e suas duas filhas fúteis e frívolas.

Humilhada e transformada praticamente numa serva, com muitas obrigações e quase nenhum direito dentro de sua própria casa, ela vê sua cinzenta vida tomar um rumo bem mais feliz e colorido ao conhecer o jovem Kit (Richard Madden) numa floresta. Na verdade ele, que se passa como um simples aprendiz, é na verdade o príncipe herdeiro de seu reino. Para não assustar a jovem e bela camponesa o nobre rapaz assim acaba escondendo sua verdadeira identidade. Quando o Rei decide que chegara o momento de seu filho se casar ele decreta que todas as jovens do reino devem comparecer no grande baile do ano. Cinderela assim vê uma bela oportunidade para rever seu apaixonado, enquanto as filhas de sua madrasta estão mais interessadas em casar com o príncipe para colocarem suas mãos em sua fortuna. A partir daí o roteiro segue os passos do desenho clássico, com as passagens que tanto conhecemos, os sapatinhos de cristal, a fada madrinha, a carruagem de abóbora, os ratinhos que se transformam em lindos cavalos brancos, o bater dos sinos da meia-noite e a desesperada busca do príncipe por sua amada, usando para isso um de seus sapatinhos de cristal que ficou para trás. Tudo mais ou menos igual (com pequenas modificações) ao conto de fadas original.

A direção foi entregue para Kenneth Branagh, uma decisão acertada pois o ator e diretor irlandês tem grande experiência com adaptações de obras literárias do passado. Basta lembrar de suas famosas transições para a tela da obra de William Shakespeare em filmes como "Henrique V", "Muito Barulho por Nada" e "Hamlet". Assim não seria grande desafio trazer a história de "Cinderela" para os cinemas dessa vez. Algumas de suas características mais marcantes estão presentes, como a bela direção de arte que acaba recriando com um belo visual, reinos encantados de um tempo distante indefinido. Outra decisão interessante foi colocar atores e atrizes provenientes de séries americanas em papéis coadjuvantes. Uma das filhas da madrasta, Anastasia, é interpretada pela linda Holliday Grainger que se destacou muito na série "Os Bórgias" no papel de Lucrécia Bórgia. Nonso Anozie, que foi o fiel escudeiro de Drácula na série de mesmo nome, também está presente no elenco como um capitão da guarda fiel ao príncipe. Sophie McShera, a Daisy de "Downton Abbey", também atua como a outra filha da madrasta de Cinderela.

Já no elenco principal quem se destaca mesmo (e isso já era bem previsível) é a atriz Cate Blanchett. Usando um figurino exótico ela dá vida para a personagem da madrasta, uma mulher com uma personalidade desprezível mesmo. Seus olhares já dizem tudo sobre ela. A atriz Lily James que surge como Cinderella não chega a impressionar, mas pelo menos também não estraga o filme. Nada surpreendente, leva sua atuação em um termo médio. Ela é bonitinha, mas sinceramente poderia ser mais, pois esse é um papel que exige uma beleza extrema, tal como no desenho. O roteiro segue até bem fiel com o conto de fadas que todos conhecemos, mas os roteiristas resolveram acrescentar alguns pequenos detalhes que não descaracterizam em nenhum momento o conto clássico. No final fica a sensação de se ter visto um belo filme, com uma mensagem bonita e pertinente (o verdadeiro amor não tem preço). Tudo realizado com muito bom gosto, classe e beleza.

Cinderela (Cinderella, Estados Unidos, 2015) Direção: Kenneth Branagh / Roteiro: Chris Weitz / Elenco: Lily James, Cate Blanchett, Richard Madden, Helena Bonham Carter, Stellan Skarsgård, Holliday Grainger, Sophie McShera, Nonso Anozie, Derek Jacobi, Ben Chaplin. / Sinopse: Remake com atores de carne e osso da famosa animação da Disney, "Cinderela". A historinha narra a vida da gata borralheira, uma jovem de boa índole que cai nas garras de uma madrasta cruel e desalmada que a explora, junto de suas duas odiosas filhas, enquanto ela procura reencontrar o grande amor de sua vida, um jovem que se diz ser um mero aprendiz que conhecera em um bosque próximo de sua casa.

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de dezembro de 2023

Henrique V

Na década de 1950 o grande sir Laurence Olivier conseguiu adaptar com sucesso para o cinema a excelente obra prima de William Shakespeare, Henry V. Na época isso foi considerado uma ousadia, uma vez que Shakespeare era considerado um autor muito teatral, praticamente impossível de se adaptar para o cinema por causa da linguagem excessivamente rebuscada e de difícil transposição para a estética cinematográfica. Isso porém não inibiu Olivier que foi em frente e conseguiu realmente realizar um filme tecnicamente perfeito. Venceu inclusive o Oscar, sendo essa a maior prova de seu êxito artístico. Décadas depois, Kenneth Branagh, considerado uma espécie de sucessor de Laurence Olivier, resolveu tentar novamente, dessa vez porém se aproximando ainda mais da narrativa tradicional do cinema, procurando sempre lapidar a teatralidade de Shakespeare para deixar o filme mais próximo do público jovem. O resultado é essa nova versão de Henrique V, uma produção de encher os olhos, e que tal como aconteceu com o filme original dos anos 50 também foi saudada como uma inovação muito bem-vinda.

Henry V (ou Henrique V, seguindo a tradição antiga da língua portuguesa em traduzir os nomes dos reis e nobres da Idade Média) foi um monarca real, que governou a Inglaterra de 1413 a 1422. Seu grande feito histórico foi derrotar os franceses (eternos inimigos dos ingleses) em 1415 na batalha de Azincourt. Forjando assim o começo de uma nova era e uma nova dinastia para trono britânico. Considerado um herói em seu país, Shakespeare resolveu escrever uma obra bem dúbia sobre esse monarca, ora o louvando, ora expondo de forma bem sutil seus defeitos pessoais. Essa dubiedade é o grande atrativo da obra original até os dias de hoje. Já Kenneth Branagh procurou pela grandiosidade, dando destaque para toda a pompa daquele período histórico. O resultado final não nega suas origens. Afinal as palavras extremamente bem escritas por Shakespeare não poderiam ser ignoradas no filme. Assim houve quem reclamasse da irregularidade ao longo da película, onde intercalam-se grandes cenas de batalha com pausas para longos monólogos declamados pelos atores. Esse tipo de crítica não prospera, pois é justamente isso que torna o filme realmente grandioso. Assim se você estiver em busca de um pouco de enriquecimento cultural, principalmente em relação a William Shakespeare e sua obra, então Henrique V se torna de fato uma ótima pedida.

Henrique V (Henry V, Inglaterra, 1989) Direção: Kenneth Branagh / Roteiro: Kenneth Branagh baseado na obra de William Shakespeare / Elenco: Kenneth Branagh, Simon Shepherd, Derek Jacobi / Sinopse: Henrique V (Kenneth Branagh), monarca absolutista inglês, enfrenta as terríveis forças francesas em uma batalha decisiva durante a Idade Média.

Pablo Aluísio.